História Militar: um novo olhar
Descrever uma história humana sobre um âmbito militar pode ser, a olhos nus, agressivo demais ou ainda “totalitárioâ€, mas não devemos esquecer que qualquer conflito armado, independente da proporção, participa ativamente no desenvolvimento humano em diversas áreas, seja ele um viés econômico, cultural ou polÃtico. Pode-se observar a proporção deste assunto quando encontramos conflitos armados, inclusive, na bÃblia ou em um possÃvel anseio de expansão de qualquer outra religião.
Autores falam da pouca expansão e do pouco reconhecimento dado, bem como valor, sobre tais pesquisas no âmbito histórico. PouquÃssimos autores são reconhecidos mundialmente e menor ainda é a quantidade de autores brasileiros envolvidos em desenvolver um novo olhar sobre a história militar. A guerra é mais bem vista, por exemplo, na mÃdia como uma fonte de notÃcia infinita ou ainda lucrativa na indústria do entretenimento.
Na UNICAMP é desenvolvido o Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE) que visa o desenvolvimento de pesquisas sobre o assunto. Geraldo Lesbat Cavagnari Filho, o fundador da NEE, afirma que o tema se limita comumente as escolas de altos estudos militares, como por exemplo a Escola de Comando do Exército, fugindo do campo universitário. Porém, Carlos Eduardo de Melo Viegas da Silva, mestrando do núcleo de Pesquisas Forças Armadas e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos, afirma que os estudos militares no Brasil já começaram a se desenvolver no meio acadêmico, entretanto é visto com certo preconceito pelos universitários como “coisa de milicoâ€. Enfrentando tais preconceitos, Cavagnari ressalta a importância de tais estudos mencionando o necessário desenvolvimento bélico-tecnológico durante um conflito e suas conseqüências em longo prazo como o meio econômico e a relação internacional entre estados.
O principal fator que justifica o inÃcio de uma maior pesquisa sobre o ato de guerrear é a sua relação com a polÃtica. Segundo Cavagnari, a condução da guerra é polÃtica e não bélica e deixa, dessa forma, uma brecha para estudos crÃticos e teóricos nas universidades. Ele ressalta a importância dos estudos estratégicos nas universidades e afirma que tais estudos já eram presentes nas universidades americanas antes mesmo da Primeira Guerra Mundial e solidificando-se após a Segunda Guerra Mundial. Obviamente a localização geográfica de muitos paÃses, a exemplo dos EUA, favorece o desenvolvimento de seu sistema bélico ganhando, assim, uma enorme vantagem sobre os demais paÃses. Tal ressalva deixa claro que não é a tradição histórica do paÃs em estudar a arte da guerra que o faz ter ao menos um navio de guerra nos sete mares e sim, neste caso, sua privilegiada solidão na América do Norte. Não podemos esquecer que, aliada a geografia, a tecnologia e a economia permitem um maior desenvolvimento bélico e seus estudos afins. Como diz Cavagnari: “Sem esses vetores, nenhuma proposição teórica é capaz de desenvolver o poder militarâ€[1].
Dentro de tantas dificuldades encontradas para efetivar o estudo de História Militar no Brasil é possÃvel encontrar as sementes germinadas por tantas guerras neste último século com o surgimento de um novo conceito: a História Militar Contemporânea. Após diversas oscilações neste campo, surgem conceitos que visam explicar o ato bélico entre nações, bem como sua atuação e conseqüência na vida humana de paises envolvidos ou não com tal guerra. Há autores que chegam a afirmar que a guerra simplesmente é a polÃtica por outro viés. Enfim, sabemos que qualquer conflito gera uma influencia direta na vida alheia, seja uma conseqüente crise econômica, uma crise ideológica ou o surgimento de novas polÃticas ainda mais vorazes.
O estudo militar, como já dito incansavelmente, não é contemporaneamente
exclusivo aos militares e deve ser analisado de ponto comum a outras ciências humanas
deixando, assim, a tradicional história de um guerreiro que acabaria por se
tornar herói ou de batalhas grandiosas para determinadas regiões ou paÃses.
Dentro da expectativa deste artigo em relacionar a contemporaneidade com a nova
História Militar, temos como base deste ramo histórico um autor que lutou nas
guerras napoleônicas e, posteriormente, se tornou um teórico diferenciado no
assunto militar. Carl von Clausewitz (1780 – 1831), considerado por muitos o
maior estudioso do “mundo militar ocidentalâ€, definiu a guerra com “visões†um
tanto quanto contemporânea: a guerra é um
camaleão, um fenômeno que alimenta e suga a sociedade que a provoca.
Hoje, o estudo da história militar está se tornando uma disciplina
indispensável nas grandes graduações militares e os alto-comandantes estão
reavaliando a importância desta matéria na formação cultural de seus futuros
oficiais. Não só cultural, mas a formação técnica, psicológica e sociológica se
torna indispensável no atual mundo globalizado e constante
A partir da década de
Finalizando a apresentação deste novo conceito, não podemos deixar de mencionar a participação e a contribuição de John Keagan. Este sustenta a premissa de que a guerra é um conflito de culturas e que a história controvertida dos conflitos de personalidade (uma ressalva especial a Segunda Guerra Mundial) ainda não foi escrita, bem como a teoria de choque entre civilizações. Apesar da grande revolução tecnológica que vivemos e a configuração melancólica da atualidade, a História, em especial a Militar, persiste hoje. Mesmo tendo surgido boatos de que a história acabaria com a queda do muro de Berlim e que uma era de paz, sem ideologias, iria reinar, não há como abandonar a história contemporânea, muito menos a realidade conflituosa que vivemos. Keagan afirma que, com a invasão tecnológica no âmbito militar, conflitos bélicos não devem ser desencadeados de qualquer forma ou motivo, ou seja, deve-se analisar a estrutura polÃtica adversária através de um sistema complexo de informações e analisar a possibilidade de uma reação violenta por meios poucos convencionais, tais como uma possÃvel tática nuclear. Enfim, a guerra moderna, segundo Keagan, deixou de ter o “heroÃsmo†tradicional, bem como o conflito direto entre homens, e passou a ser um conflito de máquinas super-poderosas com “meros mortais†a seu comando.
[1] Cavagnari, ao fazer tal menção, articula o poderio bélico americano em uma entrevista ao jornal on-line, NotÃcias do Brasil, por Juliana Schober (2004).
Bruno Guiguer (06/10/2008 22:29)